segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A contribuição de Rashi ao estudo do Talmud e da Bíblia.

O Talmud Babilônico abrange um conteúdo vastíssimo e extremamente complexo, de dificil compreensão, além desse aspecto a Guemará foi escrita em Aramaico sem pontuações, também freqüentemente encontram-se interpolados trechos não diretamente relacionados com o tema principal em discussão, além de que os erros de copistas acumularam-se ao longo de inúmeras gerações.

Rashi, quando estudou na academia do rabino Guershom de Mainz, teve acesso à uma cópia do Talmud corrigida e aceita como definitiva, que este havia elaborado. Em seus comentários Rashi costuma esclarecer o significado de um trecho ao expor uma outra forma em que ele teria sido escrito, mas nunca alterando o próprio texto do Talmud. Rashi então empenha-se no esclarecimento do texto dando sentido à discussão, conceituando palavras, e definindo questionamentos e afirmações.

Os comentários de Rashi tornaram o Talmud compreensível e exerceram um papel fundamental para as gerações posteriores e mantiveram a vitalidade da Bíblia. Ao disponibilizar suas interpretações sobre os textos antigos Rashi abriu caminhos para milhares de pessoas, tanto leigos como eruditos, pois sem sua contribuição os livros básicos do judaismo, mercê de sua dificuldade, intimidariam aqueles que se dispusessem a estudá-los.

Rashi comentou quase todos os tratados do Talmud, excetuando-se aqueles que não tem Guemará. Também não foram completamente comentados por ele os tratados de Bava Batra e Macot.

A importância dos comentários de Rashi para o estudo do Talmud e da Bíblia foi foi tão essêncial que praticamente todas as edições destas obras os apresentaram ao lado de seu texto específico, possibilitando aos estudiosos a compreensão destes textos sagrados, em qualquer momento, ao longo destes 904 anos decorridos desde sua morte.

Chidúsh: analisar sob uma nova luz, o segredo da permanência do judaismo.

Manter-se significativo, em qualquer época, é a tarefa que o judaismo tem realizado com sucesso em mais de três mil anos, não se deixando cristalizar mas sem trair sua essência, possibilitando que se possam auferir benefícios de "novas" idéias e reflexões, na linguagem adequada a cada tempo, mas sempre obtidas de seus antigos textos.

Qual é o milagre responsável por esta característica? Os comentaristas sempre procuraram um "chidúsh", ou seja dar à luz algo novo, uma "nova" interpretação, analisar um texto sob uma nova luz. Segundo a tradição cada judeu nasce para descobrir, pelo menos, um novo "insight" à compreensão da Torá, para assim dar sentido à sua vida.

Com este enfoque, sempre surgiram comentários com novas interpretações, que chamaram a atenção por sua habilidade ao expor conceitos modernos, que ofereceram sentido à textos que aguardaram por uma compreensão durante séculos.

Evidentemente um dos segredos da longevidade do judaismo deveu-se à essa habilidade de seus estudiosos para encontrar, em qualquer tempo e lugar, maneiras novas e criativas de transmitir sua mensagem de forma atraente, fazendo com que seus ensinamentos permanecessem vivos atravez dos séculos.

domingo, 28 de dezembro de 2008

O maior dos mestres judeus foi um vitivinicultor francês.

Entre os maiores mestres judeus de todos os tempos, senão o maior, encontra-se um vitivinicultor francês (cultivador de vinhas e fabricante de vinhos), que produziu alguns dos mais famosos vinhos franceses. Tal como os vinhos, que produziu, suas obras de erudição foram se tornando melhores e continuam sendo mais e mais reverenciadas com o passar dos anos.

O Rabi Shelomo ben Its'chac, mais conhecido pelo acrônimo Rashi, nasceu no ano de 1040 em Troyes, França, quase na fronteira com a Alemanha. Estudou com o rabino Isaac Halevi em Worms, e depois no principal centro de estudo talmúdico da épóca, em Mainz, com o rabino Jacob ben Iacar, que fora discípulo do grande rabino Guershom.

Rashi percorreu ainda vários centros de estudo talmúdico antes de reestabelecer-se em Troyes onde iniciou sua própria academia, além de atuar como vitivinicultor e produzir sua monumental obra. Como pôde escrever tanto? Explica-se que ele foi abençoado com três filhas, que conheceram profundamente a Bíblia e o Talmud, e que atuaram como suas escribas. As três filhas casaram-se com três de seus discípulos e alguns de seus descendentes tornaram-se, por sua vez, importantes eruditos.

Há séculos os estudiosos vem se surpreendendo com a magnitude das obras de Rashi, desde o longo e contínuo comentário sobre tôda a Bíblia, e que por essa razão tornou-se a primeira óbra judaica impressa em 1475, até o exaustivo trabalho esclarecedor e altamente erudito sobre o Talmud da Babilônia.

Rashi revelou-se um notável professor, pois em cada comentário, seja qual for a densidade de seu conteúdo, foca com precisão a dúvida que assalta o leitor e com estilo perfeito, sucintamente, adota os melhores princípios da arte da educação para seu esclarecimento, em hebráico claro e conciso.

Em 1095 foi organizada a primeira Cruzada e aconteceram perseguições aos judeus da França, que atormentaram os últimos anos de Rashi, que veio a falecer em 13 de julho de 1105.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Os Amoraítas, a Guemará, a Agadá e o Talmud Babilônico,

Com a transferência da erudição rabínica para a Babilônia criaram-se academias de estudo nas cidades de Sura, Nehardea e Pumberdita, onde, do século II ao V da EC, o estudo e debate da Mishná tornou-se a atividade preponderante dos sábios, tendo início a era dos Amoraítas (amar = falar, interpretar). Os sábios recebiam o título de Rav e não de Rabi, porque não haviam sido ordenados oficialmente na Palestina.

Os debates entre os sábios Amoraitas babilônicos estabeleceram uma nova metodologia de estudo da Mishná, criando outra forma de erudição ao adotar o debate e não a simples repetição do conteúdo textual, onde ele passa a ser um ponto de partida para a discussão, análise e pesquisa de material correlato não incluido originalmente, procurando-se, por meio de análises mais acuradas do texto existente, o enfoque sob novos e diversos ângulos de interpretação, confrontando e conciliando entre sí as diversas fontes utilizadas.

Rav Ashi, durante a sexta geração dos Amoraitas babilônicos, começou a compilar o material legal (Halachá) e o histórico (Agadá) que resultara dos debates, trabalho que teve continuidade com seu sucessor Ravina e com os Savoraítas (expositores) nos dois séculos seguintes. Este registro denominou-se Guemará (Guemar = aprender, completar), e juntamente com a Mishná compõem o Talmud Babilônico (Lamod = estudo + Torá), onde a Mishná é o texto, e a Guemará é o comentário.

A redação final do Talmud nunca foi atribuida à nenhum erudito, portanto é dito que o "Talmud nunca terminou", o que implica que seu estudo nunca deixou de se desenvolver.

Os Amoraítas legaram ao povo judeu um instrumento dinâmico, o Talmud, que se demonstrou uma potente metodologia para o estudo, a análise e a derivação de leis, tornando-se com o correr do tempo responsável por sua capacidade de adaptação e sobrevivência no agressivo ambiente da Galut (a diáspora, dispersão).

Os chefes das academias na Babilônia foram reconhecidos também como representantes políticos da diaspora do povo judeu, recebendo o título "Gaon" (plural = Gueonim), e estiveram em evidência de 598 à 1038 EC.

Da Palestina para a Babilônia!

Quando Rabi Iehudá Hanassí, aproximadamente no ano 200 E.C., compilou a Mishná com o registro da tradição oral conforme transmitida pelos Tanaim, deixou fora de sua seleção um extenso material, parte do qual posteriormente foi recolhido por seus discípulos, os rabinos Hiya e Oshaia, que o denominaram Tossefta (adição).

Também nessa mesma época foram escritos os livros que registraram o Midrash Halachá (a derivação de leis da Torá escrita, por meio de análise e interpretação de seu texto, de acordo com regras exegéticas pré-definidas).

Todos os registros do material de origem tanaítica (
Tanaim, eruditos rabínicos), e das leis isoladas, que não foram compilados na Mishná, são conhecidos coletivamente como Beraitot (ensinamentos de fora).

Após a morte do
Rabi Iehudá haNassí (Judá, o Príncipe) do San'hedrin (a Suprema Corte), ocorreu um enfraquecimento político da Palestina, e o fulcro da erudição rabínica transferiu-se para a Babilônia.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Por que os judeus nunca serão dominados pelo "fundamentalismo"?

Cumprir uma regra útil, cegamente de forma automática, sem considerar as transformações circunstânciais que possam ter ocorrido e prejudicado seu objetivo, é trair o princípio básico da lei, da sua essência, do seu espirito. É proceder como um animal irracional, é desprezar a capacidade intelectual que D'us deu ao homem, já que o fez à sua imagem e semelhança, ou seja, é trair ao próprio Eterno!

Quando Rabi Iehuda haNassi, tendo em vista a perseguição e consequênte dispersão dos judeus, determinou que a Mishná fosse escrita, transgrediu uma regra útil, porém menor, para que algo maior e prioritário fosse respeitado, o estudo adequado da Torá por todos os judeus.

Acontecimentos semelhantes ocorreram diversas vezes na história judaica, pois o judaismo não é extático, cristalizado, fossilizado, é um modo de vida dinâmico, em que seus eruditos debatem, analisam, decidem e ensinam como ser judeu obediente ao cerne dos ensinamentos da Torá, em qualquer época e sob qualquer circunstância nova!

Por essa postura, característica do judaismo, o fundamentalismo cégo, torpe e bestial jamais vicejará em seu povo!

Mas por favor, jamais entenda estas palavras como uma licença, pretexto ou incentivo, para que uma pessoa individualmente ou a seu bel prazer, para satisfazer seus impulsos ou idéias, altere ou abandone o cumprimento de uma mitzvá ou ensinamento da Torá.

Apenas os eruditos da Torá, com autoridade adequadamente reconhecida pelas instituições, podem coletivamente, após exaustivos estudos e debates, determinar qualquer alteração, por mais insignificante que possa parecer, no cumprimento da Lei.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Mas se a Torá Shebeal Pê (a Torá Oral) não deveria ser escrita, por que o foi?


Quando no ano judaico de 2448 o povo judeu recebeu a Torá Shebichtav (a Torá Escrita),
Moisés também recebeu a sua regulamentação: a Torá Shebeal Pê (a Torá Oral), que com o tempo transmitiu oralmente à Josué, que por sua vez, transmitiu-a aos líderes da geração que o sucedeu, e assim durante gerações se fez, sempre por transmissão oral, até a época do domínio pelos romanos.

Com a destruição do "Beit haMikdash" (o Templo), a perseguição e a "Galut" (a dispersão) dos judeus pelo mundo, Rabi Iehudá haNassí (Judá, o Príncipe) do San'hedrin (a Suprema Corte) sabiamente compreendeu que a transmissão oral
tornara-se inviavel, e com o passar do tempo haveria o risco de perder-se ou ter-se partes dos ensinamentos corrompidas, com o conseqüênte desenvolvimento de várias versões da Torá Shebeal Pê (a Torá Oral).

Aproximadamente no ano 200 E.C. (Era Comum = D.C.)
Rabi Iehudá Hanassí compilou o primeiro texto com o registro da tradição oral, conforme transmitida pelos Tanaim, eruditos rabínicos (Taná = aquele que estuda, repete e ensina), à que denominou Mishná (repetição).

Assim ao menos as palavras dos eruditos poderiam acompanhar os judeus na diáspora, já que eles mesmos não poderiam estar em todos os lugares. É consenso que, se a Mishná "limitou" a
Torá Shebeal Pê (a Torá Oral) à forma escrita, por outro lado permitiu que os estudos de seus ensinamentos pudessem ter continuidade e portanto assegurou a sobrevivência do povo judeu.

A
Mishná
está dividida em seis Sedarim (ordens):

1) Zeraim
(sementes) - leis agrícolas, alimentares e bençãos.

2) Moêd
(festividades) - leis das festividades, do Shabat (sábado) e dos dias de jejum.

3) Nashim
(mulheres) - leis do casamento, adultério, divórcio e relações sexuais.

4) Nezikim (danos) - leis civis e penais.

5) Kodashim (objetos sagrados) - leis do Templo.

6) Tahorót (pureza) - leis da pureza ritual.

domingo, 7 de dezembro de 2008

A Torá Shebeal Pê (A Torá Oral) - Para que Torá Oral? A Torá Escrita não era suficiente?

O texto de uma lei deve expressar, de forma inequívoca e sucinta, o princípio básico que ela determina. Entretanto o princípio básico por si só, muitas vezes, não esclarece o “modus operandi” pelo qual será colocado em prática, nem as diferentes circunstâncias que, eventualmente, poderão interferir na forma do cumprimento da lei.

Torna-se necessária a “regulamentação” da lei, ou seja, a definição das normas que orientarão seu cumprimento em qualquer circunstância e mesmo assim, algumas vezes, a questão ainda deve ser submetida à um tribunal para que este analise os aspectos inéditos, assegurando-se de que o princípio básico esteja sendo realmente obedecido.

Este procedimento envolve a “interpretação” da “letra” para conformar-se ao “espirito” da lei, e é uma decisão que sempre terá a mesma “qualidade” daqueles que julgam.

Obviamente, para homogenizar os procedimentos interpretativos e assegurar a uniformidade é que foi dada, juntamente com a Torá Shebichtav (a Torá Escrita), a “regulamentação” ou seja a Torá Shebeal Pê (a Torá Oral), que explica os detalhes da observância das leis da Torá escrita.

Ou seja transmitia-se a metodologia para a derivação de Halachót (leis) da Torá. Este procedimento permitiu aos eruditos de várias gerações legislar a respeito de aspectos novos que não estavam explícitos na Torá escrita.

Esta derivação de leis da Torá escrita, por meio de análise e interpretação de seu texto, de acordo com regras exegéticas pré-definidas estabeleceu uma importante fonte de leis, o Midrash Halachá (raiz "Darash"= inquirir, investigar).

Estabeleceu-se também um outro tipo de Midrash, o Midrash Agadá (narrativa de tudo que não se constitui em lei) onde a leitura da Torá escrita é feita com significados diferentes daqueles que são perceptíveis a primeira vista, considerando-se apenas o entendimento literal.

Estas interpretações enriqueceram e iluminaram novas formas de entendimento da Torá escrita.

Sim... mas, por que adotou-se a transmissão oral?

Porque não se tratava apenas de um elenco de instruções processuais, tratava-se na verdade de um “curso presencial de capacitação”, capaz de habilitar aqueles que definiriam como as leis escritas deveriam ser cumpridas, em qualquer circunstância inédita que pudesse vir a ocorrer futuramente.


terça-feira, 25 de novembro de 2008

A "Presença Divina": os "Chetuvím" Os Escritos.

A 3ª categoria que compõe o "Tanach" (A Bíblia Judaica) são os "Chetuvím" (OsEscritos). Eles são produtos de uma comunicação sagrada mais suave, a "Presença Divina".


Os "Chetuvím" (Os Escritos) são compostos pelos livros:


* "Tehilim" Salmos, escritos pelo "Rei David".


* "Provérbios
- Sabedoria de Salomão"
................................último capítulo: "Eshet Cháyil" (A mulher virtuosa),

* "Jó"


* "Cântico dos Cânticos"


* "Ruth"
é lido em "Shavuot"


* "Eichá"
Lamentações, escrito por "Jeremias",
.....................lamento pela destruição do "Beit Hamicdash" (O Templo),
.....................é lido em 9 de Av,

* "Kohelet"
Eclesiastes,


* "Esther"
é lido em "Purim"


* "Daniel"


* "Esdras"
e "Nehemias", são considerados como um único livro,


* "Crônicas I e II"

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Neviím Os Porta-vozes do Divino.

A 2ª categoria dos livros que compõem o "Tanach" (ABíblia Judaica) são os "Neviím"(Os Profetas).
Eles estiveram presentes durante toda a história Bíblica, começando por Moisés, que foi o primeiro e o maior de todos eles.
O "Nabi" (O Profeta) falava em nome de D'us, era o porta-voz, o instrumento pela qual Ele fazia conhecer a Sua vontade. Ele trazia as comunicações de D'us, porém com suas próprias palavras.
Os "Neviím" (Os Profetas) eram considerados os mestres infalíveis com autoridade, já que eram homens a quem D'us dava a inspiração para se dirigirem ao povo, analisando os acontecimentos passados e contemporâneos, e anunciando antecipadamente o que sucederia futuramente, para instrui-los nos Seus caminhos.
As predições foram o aspecto de seu trabalho que mais impressionava o ânimo do povo, tanto que as profecias que aparecem na Bíblia são, em geral, o resumo daquelas feitas por eles.
Além de instruir o povo e proferir as predições, eles condenavam, ameaçavam, prometiam, mandavam e agiam.
O estilo profético assemelha-se muito ao estilo poético, sua linguagem quase sempre aproxima-se do sublime.
Os judeus denominaram "Profetas" aos seus autores "inspirados".

Foram chamados "Profetas Anteriores" aqueles das narrativas dos livros de:
* Josué,
* Juízes,
* Samuel I e II,
* Reis I e II,

Os três maiores, propriamente ditos, foram denominados "Profetas Posteriores":
* Isaías,
* Jeremias,
* Ezequiel,

Os demais ficaram conhecidos como "Os Doze Profetas Menores":
* Oséias,
* Joel,
* Amós,
* Ovadia,
* Jonas,
* Miquéias,
* Naum,
* Habacuc,
* Sofonias,
* Ageu,
* Zacarias,
* Malaquias.

O período profético encerrou-se com a morte de Malaquias.

"Torá Shebichtav" ( A Torá Escrita ) Sefer Torá, Chumash.

No ano judaico de 2448 Moisés recebeu, para o povo no Monte Sinai, a Torá.

Os Dez Mandamentos estavam escritos em duas tabuas de pedra, e Moisés escreveu a Torá em um Sefer Torá, um livro na forma de um rolo de pergaminho, a Torá Shebichtav (A Torá Escrita).

Hoje cópias do Sefer Torá meticulosamente escritas a mão, também sobre rolos de pergaminho por um Sofer (um escriba habilitado), são encontradas abrigadas nos Arón Hacódeshim (As Arcas Sagradas) de todas as Sinagogas.

Os Sifrei Torá (os Rolos Sagrados de Pergaminho) contém os Cinco Livros de Moisés (Pentateuco), que na forma de livro impresso também é conhecido por Chumash.

A Torá "stricto sensu" compõem-se dos Cinco Livros de Moisés que são:

* Bereshit (princípio) (Gênesis): relato da Criação, príncipio da história do mundo, patriarcas e matriarcas do povo judeu, começo da história do povo judeu.

*Shemót (nomes) (Êxodo): relato da saída do povo judeu do Egito, onde foram escravos, recebimento da Torá, construção do Mishkan (Tabernáculo).

*Vaikrá (E Chamou) (Levítico): Leis do Templo, sacrifícios, sacerdotes, pureza.

*Bamdibar (No Deserto) (Números): Peregrinação pelo deserto, Censo, rebelião de Corach.

*Devarim (Palavras) (Deuteronômio): A despedida de Moisés, Shemá, revisão da Lei.

domingo, 23 de novembro de 2008

"Tanach", A Bíblia Judaica.

O "Tanach", A Bíblia Judaica, compõem-se de três seções:

1) "Torá" "stricto sensu": Os Cinco Livros de Moisés, ou Chumásh, ou Pentateuco.

2) "Neviím": Os Profetas.

3) "Chetuvím": Os Escritos.

A palavra "Tanach" é um acrônimo dessas três categorias de livros que compõem a Bíblia Judaica.

A 1ª categoria representa a comunicação direta entre D'us e os humanos.

A 2ª categoria traz as comunicações de D'us porém com as próprias palavras dos Profetas.

A 3ª categoria é produto de uma comunicação mais suave: A "Presença Divina", também sagrada.

Antigo Testamento??? não ... para nós é o ùnico!

Os cristãos deram o nome Antigo Testamento à nossa Bíblia sem má intenção, porque acreditaram que a Aliança, entre o povo judeu e D'us, fora transferida para a "nova Israel" (segundo eles a Igreja), o que teria tornado a Bíblia Judaica "ultrapassada e obsoleta"; devendo então ser revisada e acrescida de um "Novo Testamento" em uma "nova versão revista e ampliada".
Para nós judeus, nossa Bíblia é preciosíssima e continua viva e sempre atual em todas as nossas gerações, é eterna e nunca será um "Antigo Testamento", para nós será sempre o único "Testamento".

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Posso rezar só de vez em quando?

Temos grande admiração pelos atletas olímpicos, eles treinam, treinam e treinam periodicamente, conseqüêntemente são recompensados, pois sua tenacidade e constância os levam a romper barreiras e a quebrar recordes.

A mesma postura deve ser adotada para aprender a falar com D'us. Reze, reze e reze!

Os judeus rezam três vezes ao dia:

1) Shaharit - reza da manhã.
2) Minhá - reza da tarde.
3) Maariv ou arvit - reza da noite.

Afinal a espiritualidade de nossa alma deve ser alimentada tal como alimentamos nosso corpo.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Mas..., vou agradecer pelo que?

Hodaá - oração de agradecimento.

Ah..., mas temos tanto a agradecer, começando pela energia vital que recebemos. Mesmo aqueles que passam a vida toda a reclamar, se pressionados, jamais concordarão em deixa-la.

Não há convivência pior do que com uma pessoa ingrata.

É bem verdade que D'us não necessita nossos agradecimentos, mas mesmo assim nunca devemos deixar de declararmos a Ele o quanto somos gratos por tudo que recebemos, tal como um Rabino Chassídico que costumava rezar:

"Meu D'us, Tu tens me dado tanto, mas eu ouso pedir-Te mais uma coisa: torne meu coração agradecido".

Mas..., posso pedir só um pouquinho?

Hacashá - oração de pedido.

Podemos pedir, mas, é necessário saber pedir, com inteligência.

"Há duas tragédias na vida. Uma é não conseguir o que desejamos. A outra é conseguir".
George Bernard Shaw, escritor inglês (1856 - 1950).

Quantas vezes nos aborrecemos por algo que muito desejavamos e não conseguimos, mas a medida em que o tempo passa vamos nos conscientizando de que, assim sendo, nos livramos de complicações terriveis.

Mas, o pior é quando conseguimos aquele algo por que tanto ansiavamos, apenas para deplorarmos os inconvenientes colaterais, que transformaram nossa vida num inferno.

"Eu vivo agradecendo a D'us por todos os meus pedidos que Ele não atendeu".
Jean Ingelow, poeta inglês (1820 - 1897).

Por tudo isso, no judaismo rezamos:

"Por favor, realize os desejos de nosso coração para o bem, pois Tu sabes o que é melhor para nós, então faça o que Tu achares melhor"

Então, mesmo não tendo recebido o que desejavamos, ainda assim saberemos que nossos pedidos foram atendidos.

Mas..,. se Ele não necessita, por que louva-Lo?

Shevách - oração de louvor.

"A procura por D'us contém a procura por nossa própria medida, é um teste para o nosso próprio potêncial espiritual" Rabino Avraham Joshua Heschel (1907 - 1972) teólogo, professor do Jewish Theological Seminary, em Nova York.

Mais uma vez a necessidade é nossa e não de D'us, é evidente que Ele não necessita de nossos louvores, mas, louvando-O vivificamos nossas almas, despertando-as para a sacralidade, que permeia todo o nosso ambiente.

E ainda mais, louvando-O identificamos Suas qualidades Divinas, taes como, Sua retidão, Sua misericórdia, Sua justiça, Sua compaixão, etc., e as adotamos como objetivos que ansiaremos também por atingir.

Se eu quiser falar com D'us...

Se eu quiser falar com D'us posso escolher, conforme minha intenção, entre três diferentes maneiras de rezar:

1) Shévach - oração de louvor.
2) Hacashá - oração de pedido.
3) Hodaá - oração de agradecimento.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Rezar por que, p'ra que?

Somos pessoas do século XXI, cultas, temos curso superior; somos responsáveis, trabalhamos em grandes corporações, gerenciamos negócios importantes; somos inteligentes, usamos sempre a razão cartesiana (Ah! Nisso somos ótimos...! Então façamos uso dela):

O Eterno, que criou e mantém este extremamente complexo universo, não saberia quais são as nossas necessidades, nossas aspirações, nossas inquietações, nossos sofrimentos?

Seria necessário que pedissemos a Ele pela satisfação de nossas carências; estaria Ele permanentemente à nossa disposição para providênciar o atendimento de nossos desejos?

Além disso, se não recebemos o que necessitamos, ou desejamos, não seria porque Ele assim o determinou? E mais ainda, não estariamos sendo petulantes e extremamentes arrogantes solicitando aquilo que Ele, em sua infinita sabedoria, já decidira que não teriamos?

E quanto as orações de louvor, será Ele tão egocêntrico a ponto de necessitar ouvi-las?

Bem, vamos ver o que nos propõe o judaismo perante estes questionamentos:

Em hebraico rezar é "lehitpalêl", que significa "julgar a si mesmo com verdade", é portanto, algo que influi sobre nós mesmos, que faz com que nos tornemos mais espiritualizados, é uma auto-reflexão, que faz com que encaremos nossas vidas com a consciência de que D'us existe.

Mais do que implorar (o que para o judaismo é despropositado), rezar é estar com, quando rezamos estamos com D'us e permanecemos em Sua presença, e quanto mais estivermos com Ele mais estaremos sob Sua influência. "Diga-me com quem andas e te direi quem és"

Rezar, portanto, não é um esforço para convence-LO a mudar Sua vontade e dar-nos o que não temos recebido.

Pedir a D'us não pode ser uma desculpa para a acomodação,
"D'us só ajuda a quem se ajuda!"

Ao rezarmos nos tornamos, em todos os aspectos, pessoas melhores e poderemos vir a ser merecedores de ter nossas orações atendidas, porque rezar é um processo de auto-transformação, que desenvolve nossa própria força de vontade para nos sintonizarmos com D'us, de tal forma que possamos mudar a nós mesmos e sermos capazes de encontrar o que sempre esteve a nossa disposição.

"Rezar tem o duplo encanto de elevar-nos até D'us e de trazer D'us até nós" Rabino Benjamin Blech - "Prêmio Educador Norte-Americano do Ano"

domingo, 2 de novembro de 2008

As 365 Mitzvot Negativas ou "não farás"

Mitzvot Negativas ou "não farás" são em número de 365, pois:
" recusar-te-a a fazer o mal os 365 dias do ano".

As 365 Mitzvot Negativas ou "não farás" abrangem os seguintes temas:

1) 59 sobre a idolatria.
2) 29 sobre os Deveres para com D'us.
3) 83 sobre as Oferendas.
4) 38 sobre as Proibições Alimentares.
5) 19 sobre o Cultivo da terra.
6) 42 sobre os Deveres para com os Semelhantes, os Pobres, e os Empregados.
7) 49 sobre a Autoridade da Corte de Justiça.
8) 10 sobre os Festivais.
9) 32 sobre as Leis do Casamento.
10) 4 sobre a Ética dos Governantes.

As 248 Mitzvot Positivas ou "farás" (tudo isso?).

As Mitzvot Positivas ou "farás" são em número de 248, pois: "usarás as 248 partes que compõem o teu corpo para realizar os teus deveres para com D'us e para com teus próximos".

Não fique assustado, as mitzvot incondicionais, ou seja, aquelas que todo adulto, obrigatóriamente, deve cumprir, em todos os tempos, em qualquer lugar, em qualquer circunstância, são em número de apenas 60, desde que ele esteja enquadrado nas mesmas circunstâncias que a maioria, ou seja: que alimente-se de pão e carne, que se case, que procrie, que negocie e que more na cidade, não é muito, não é? Já as mulheres, que tradicionalmente assumem o trabalho doméstico e o cuidar dos filhos, são dispensadas de 14, tendo que cumprir apenas 46 mitzvot, que compõem seu pacto específico.

Das 188 mitzvot restantes algumas foram obrigatórias apenas durante a existência do Bêt HaMikdash (Templo), como as ofertas dos festivais, o comparecimento diante do Eterno, a reunião do povo, etc.
Alguns preceitos são obrigatórios coletivamente para toda a congregação de Israel, mas não individualmente para cada pessoa.
Outros preceitos eram e são obrigatórios apenas para quem tem bens, quem não tem fica isento, mas isto não aplica-se à tzedaká (justiça social) pois até mesmo um pobre, que vive de recebe-la, deve ajudar a outro mais necessitado que ele.
Outras mitzvot são aplicáveis apenas àquele que realizou determinada ação, ou a quem aconteceu algo.
Porém é possível que uma pessoa passe toda a sua vida sem que chegue a estar sujeito à esses preceitos.

As 248 Mitzvot Positivas ou "farás", abrangem os seguintes temas:

1) 19 sobre a Crença em D'us.
2) 76 sobre o Santuário.
3) 18 sobre a Purificação.
4) 39 sobre os Dízimos e as Orações.
5) 18 sobre os Festivais.
6) 23 sobre a Ética do Estado.
7) 16 sobre os Deveres para com os Semelhantes.
8) 14 sobre os Deveres para com a Família.
9) 8 sobre a Aplicação das Leis Criminais.
10) 17 sobre o Direito de Propriedade.

As 613 mitzvot (preceitos, ensinamentos ou mandamentos).

A Torá contém 613 artigos de lei, conhecidos como as 613 mitzvot (preceitos ou mandamentos).
O conjunto dos preceitos está relacionado à três aspectos:
* às opiniões,
* à moral, e
* à prática dos deveres sociais,
e objetiva levar os humanos a conseguir o ideal da perfeição do corpo e a da alma.
Cada um dos preceitos procura atingir um ou mais dos seguintes intuitos:
* inculcar as atitudes corretas,
* corrigir algumas concepções errôneas,
* definir uma legislação justa,
* banir injustiças,
* infundir virtudes exemplares,
* eliminar inclinações nocivas.

As 613 mitzvot estão divididas em dois grandes grupos:

1) Mitzvot Positivas ou "farás" em número de 248, pois:
"usarás as 248 partes que compõem o teu corpo para realizar os teus deveres para com D'us e para com teus próximos".

2) Mitzvot Negativas ou "não farás" em número de 365, pois:
" recusar-te-a a fazer o mal os 365 dias do ano".

Observe-se que todas as obrigações e advertências da Torá referem-se à:
* opiniões;
* atos;
* traços de carater taes como:
benevolência, misericórdia, piedade, rancor, vingança, recompensar o mal, e amor, pois
"E amarás o teu próximo como a ti mesmo" Vayicrá (Levítico) 19:18.
* o que se diz:
expressar nossa gratidão a Ele, orar a Ele, confessar os pecados, e outros temas correlatos;
ou nos alerta quanto a dizer certas coisas:
falso juramento, intriga, falar mal dos outros, amaldiçoar, etc.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

As Dez Mais ou... , A Torá resumida?

Os Dez Mandamentos foram recebidos, no ano judaico de 2448, aos pés da montanha, que fumegava como o "fumo de fornalha", enquanto estremecia sob o crescente som do "Shofar" (corneta de chifre de carneiro) Shemot (Êxodo) 19:18.

Os Dez Mandamentos, em conjunto com as 620 letras usadas para escreve-los, são o melhor "resumo" das 620 "mitzvot"(preceitos), ou seja são 613 preceitos + 7 acrescentados posteriormente por "Estudiosos do Saber", inspirados na própria Torá).

Os Dez Mandandamentos estavam gravados em dois blocos de pedra.

As Leis gravadas no primeiro bloco tratam das obrigações "religiosas" que o homem tem para com o seu Criador:

1. Eu sou o Eterno, teu D'us, que te tirou da terra do Egito, da casa dos escravos.
2. Não terá outros deuses diante de Mim. Não farás para ti imagens de escultura, figura alguma do que há em cima, nos céus, e abaixo, na terra, e nas águas, debaixo da terra. Não te prostarás diante deles, nem os servirás.
3. Não jurarás em nome do Eterno, teu D'us, em vão.
4. Estejas lembrado do dia de "Shabat" (sábado) para santifica-lo.
5. Honrarás a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra, que o Eterno, teu D'us, te dá.

Não se surpreenda, não há nenhum engano na posição do quinto mandamento, seu lugar é ai mesmo, pois os pais nos deram a vida, são nossos criadores aqui na Terra, e merecem respeito semelhante ao que devemos ao nosso Criador Todo-Poderoso.

O segundo bloco contém as obrigações "civis", aquelas que regem os relacionamentos entre pessoas:

6. Não matarás.
7. Não adulterarás.
8. Não furtarás.
9. Não darás falso testemunho contra teu próximo.
10. Não cobiçarás a casa de teu próximo, não cobiçarás a mulher de teu próximo, seu servo, sua serva, seu boi, seu asno e tudo o que seja de teu próximo.

Os cristãos, tanto católicos quanto protestantes ou evangélicos, tem modos diferentes de enumerar os Dez Mandamentos.

Observe-se que o primeiro e o último mandamentos são direcionados ao coração das pessoas, não exigindo que se faça algo.

Os oito mandamentos intermediários exigem que a pessoa faça ou deixe de fazer algo concretamente.

O "Midrásh" (relato instrutivo) ensina que os dois blocos foram dados juntos, porque não devemos separar nossa vida espiritual, interior, da vida secular, mundana. O judaismo não é para ser praticado apenas nas sinagogas, não está restrito apenas aos nossos compromissos com D'us.

A Torá, tal como a recebemos, determina que ser religioso é tanto ser praticante quanto agir eticamente. Em todos os aspéctos nossa vida será examinada, conforme as leis gravadas nos dois blocos de pedra. Para o judaismo um delinquente religioso é tão paradoxal quanto um ateu praticante.

Em verdade, para a tradição judaica, devemos priorizar as pessoas, pois nas palavras de Elie Wiesel (Prêmio Nobel da Paz em 1968):

"Se eu quizer me aproximar de D'us, tenho que me aproximar de meus semelhantes. Se eu sou seu amigo, sou amigo de D'us. Se eu sou seu inimigo, sou inimigo tanto de D'us quanto de Suas criaturas."

Ou também, de um pregador cristão, Cotton Mather (1663-1728):

"Ai daqueles que oram para D'us com todo o coração aos domingos e maltratam seus semelhantes nos demais dias da semana."

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Cláusulas Pétreas.

No direito constitucional existe a figura das Cláusulas Pétreas. São as Cláusulas Constitucionais que não podem ser alteradas sob pena de desfigurar, descaracterizar, e inviabilizar a Constituição.
A Torá, que é a "constituição" do Judaismo, tem as suas cláusulas pétreas.
Segundo os princípios, relativos à D'us, compilados por Maimônides, D'us não é humano, é incorpóreo, e não pode morrer exatamente por que não vive na forma humana, portanto o judaismo não pode aceitar que um homem ou mulher possa ser D'us.
O primeiro dos Dez Mandamentos também se constitui em uma cláusula pétrea: "Eu sou o Eterno, teu D'us" (Êxodo 20:2 e Deuteronômio 5:6) está expresso por um sufixo hebráico no singular, ou seja D'us fala diretamente a todas pessoas como que dizendo "Eu sou acessível a Você sem que seja necessário nenhum intermediário". "Teu" quer dizer de cada um de nós. D'us sabe de tudo pois Ele não é uma pessoa, aliás é isto o que faz dele D'us.
Rezar para outro, como meio para chegar a Ele, é inconcebivel para o judeu, que tem um canal aberto para D'us, conforme codificado por Maimônides: (Diretamente) "para Ele e sómente para Ele Você deve rezar".
Pela convicção judaica ninguém pode falar por Ele, nem viver por Ele, ou morrer por Ele.
D'us é o Ser Todo Poderoso que criou o universo, e que é Um, não muitos, nem três, nem dois.
Uma pessoa que aceite D'us Infinito contido no corpo finito de um homem ou mulher; que aceite que se reze para outro para chegar à Ele, poderá ser legitimamente adepto de uma "outra" religião, mas jamais poderá ser considerado um judeu.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O judaismo é uma religião legal?

O judaismo é uma religião de ação, e não de crença, ou talvez possamos dizer, de crença na ação, pois "agir como se deve agir" cria a consciência sacralizada que valoriza a vida.
Necessitavamos então de um manual de vida, que nos instruisse "como deveriamos agir"!
É exatamente por isso que recebemos a Torá, que considerada em sentido amplo, abrangendo não apenas a Torá escrita, o "Pentateuco", mas todos os livros posteriores e também a "Torá Oral", que abriga uma mescla de debates e comentarios, sobre questões cruciais como: o que significa ser humano, como agir para ter uma vida significativa que faça sentido, além de relatos, história, princípios éticos e "midrashim" (interpretações, relatos instrutivos), desenvolvidos por inúmeras gerações de "Talmid Chachám" (estudante de sabedoria).
Tudo isto compos uma imensa Enciclopedia de Saber, e estruturou um "Código", que contemplou todos os setores e aspectos religiosos ou profanos de nossa vida: a organização e a justiça social, o comportamento, as normas de relacionamento, o aperfeiçoamento pessoal, a liturgia, a filosofia, a medicina, a agricultura, a alimentação, estruturando juridicamente os direitos: religioso, civil, comercial, criminal, de propriedade (e até facetas que só recentemente tornaram-se preocupação geral: urbanismo, ecologia, sustentabilidade, respeito aos animais), e que se constituiu efetivamente em nossa "LEI".
Portanto a "TORÁ" é nosso Manual de Instruções para a Vida, é o Ensinamento, é a nossa "LEI", e a resposta ao título é:
Sim, o judaismo é uma religião "Legal" (com todas as suas conotações)!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

"De Moisés a Moisés não houve outro como Moisés"

A tradição judaica faz essa afirmação porque, desde o profeta Moisés, que conduziu os judeus para fora do cativeiro egípcio, e recebeu os mandamentos da Torá diretamente de D'us, até que surgisse o Rabino, médico e filósofo Moshé ben Maimon, o Rambám (ou Maimônides, filho de Maimon) (14 de Nissan - 1135 / 20 de Tevet - 1204), não houve um sábio que explicasse ao povo judeu, de forma tão clara, os ensinamentos recebidos pelo primeiro Moisés.
Maimônides demonstrou que usar a razão para desenvolver a fé é perfeitamente lógico, e tornou-se o único filósofo capaz, até hoje, de navegar nos rios das quatro grandes culturas: judaica, arabe, greco-romana e ocidental, tornando-se assim o pensador judeu mais importante da Idade Média.
Maimônides, para seguir os ensinamentos do Talmud de não usar a religião para se manter, tornou-se médico da corte do Sultão do Egito, mas mesmo assim ainda encontrou tempo para conhecer as obras dos grandes pensadores de outras culturas, entre eles Platão e Aristóteles, e é claro, sem deixar de tornar-se um mestre da Biblia e do Talmud.
Maimônides foi o primeiro a sistematizar todas as leis dispersas pelo Talmud em um compêndio sobre a Halachá (a Lei, o ensinamento, o caminho a seguir), que denominou Iád Hachazacá "A Mão Forte", para deixar claro que a obediência à Lei e o cumprimento dos preceitos (mitzvót) é que atende plenamente às nossas obrigações com D'us, tornando-nos melhores judeus, mais do que as nossas convicções, pois as ideias podem ser esplêndidas mas, se não forem transmutadas em ações, de nada valerão, reafirmando portanto que o judaismo é uma religião do fazer, da ação. Este compêndio também é conhecido como "Mishnê Torá" (Segunda Torá).
Maimônides amalgamando seus extensos conhecimentos judaicos e seculares elaborou a obra-prima da filosofia judaica: "O Guia dos Perplexos", onde dirige aqueles religiosamente pertubados e perplexos para o caminho da superação de suas dúvidas, provando que os judeus não temem a abordagem filosófica, e que, aqueles intelectualmente corajosos, com ela atingem a fé com convicção lógica, cumprindo as mitzvót, os mandamentos da Torá.

Os Treze Princípios da Fé Judaica

Resumo conciso das convicções básicas do judaismo, elaborado pelo Rabino, médico e filósofo  Moshé ben Maimon,  o Rambám (ou Maimônides, filho de Maimon) (1135 - 1204)

1) Eu creio com plena convicção que o Criador, bendito seja o Seu Nome, Ele só, fez as criaturas e as dirige e Ele só, fez, faz e fará todas as obras.

 2) Eu creio com plena convicção que o Criador, bendito seja o Seu Nome, Ele é o Único e não há Unicidade como a Dele, de nenhuma maneira. E só Ele é nosso D'us; Ele existiu, existe e existirá para sempre.

 3) Eu creio com plena convicção que o Criador, bendito seja o Seu Nome, não é corpo e não pode se assemelhar à matéria.E Ele não tem nenhuma comparação com qualquer coisa.

 4) Eu creio com plena convicção que o Criador, bendito seja o Seu Nome, Ele é o primeiro e o último, sem fim.

 5) Eu creio com plena convicção que o Criador, bendito seja o Seu Nome, a Ele só, se deve rezar e não a outro.

 6) Eu creio com plena convicção que todas as palavras dos profetas são verdadeiras.

 7) Eu creio com plena convicção que a profecia de Moisés, nosso mestre, de bendita memória, é verdadeira e que ele é o pai (mestre) de todos os profetas anteriores e posteriores a ele.

 8) Eu creio com plena convicção que toda a Lei que se encontra em nossas mãos é a que foi dada a Moisés, nosso mestre, de bendita memória.

 9) Eu creio com plena convicção que esta Lei não foi trocada, nem haverá outra Lei por parte do Criador, bendito seja o Seu Nome.

10) Eu creio com plena convicção que o Criador, bendito seja o Seu Nome, Ele conhece todas as obras dos homens e todos os seus pensamentos, pois assim foi dito: "O Criador de todos os corações conhece todas as suas obras".

11) Eu creio com plena convicção que o Criador, bendito seja o Seu Nome,  recompensa aos que guardam os Seus preceitos e pune os que os transgridem.

12) Eu creio com plena convicção na vinda do Messias, e apesar dele tardar em vir, contudo esperá-lo-ei em cada dia.

13) Eu creio com plena convicção que haverá a ressurreição dos mortos quando for do agrado do Criador, bendito seja o Seu Nome e exalçada a Sua lembrança para todo o sempre. 


quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Judeus, povo escolhido?

Judeus não são o povo escolhido mas sim, o povo que escolheu servir à D'us, aceitou sua Lei e que, reza para que o restante da humanidade siga seu exemplo, mas isso não o torna superior, pois somos todos filhos de D'us, isso apenas aumenta a sua responsabilidade de ser "uma luz entre as nações".
Com efeito, os judeus tem uma tarefa a cumprir em relação ao mundo não judaico: incentiva-lo a observar as "Sete Leis Noéticas", que são leis que valem para todos os humanos, não só para os descendentes de Abrahão mas, também para os de Adão, pois todos os humanos foram criados "à imagem de D'us".
As "Sete Leis Noéticas" são diretrizes gerais e universais, que Noé recebeu para a sua e para as gerações seguintes, que entretanto não eximem os não judeus dos outros preceitos éticos, taes como: honrar os pais, fazer caridade, rezar, etc...
São elas:
1) Abster-se de idolatria, crer em D'us.
2) Abster-se de blasfemia.
3) Abster-se de pegar o que não lhe pertence.
4) Abster-se de assassínio.
5) Abster-se de imoralidades.
6) Abster-se de tratar animais com crueldade, não comer um membro de um animal vivo.
7) Cumprir as Leis de seu País.